quarta-feira, novembro 24, 2004

THE MATRIX IS ALL AROUND US

Eu sei que tenho um espirito criativo que se perde entre a realidade e o imaginário... embora CONSCIENTEMENTE mantenho o controlo e mantenho as minhas acções rente à realidade... mas... Sadly, sou chamado de louco, ou maluco, ou qualquer cena do género, mas o mais recente comentário foi ‘larga a ganza’ e ‘ganzónias’, ou à uns tempos atrás ‘larga as ervas’... claro que foi de um amigo, mas... ... mas, eu nem fumo nem gramo o fumo dessas cenas! Agora, serei eu louco/maluco ... imaginativo... ou transcendo as linhas de código da matriz?
Leitor identificado

O ser humano é um animal social. Sempre o foi. Antes mesmo de o homem ser Homem, já vivia em comunidade. Ou seja, andamos em bando. Fazemo-lo por necessidade, pois somos muito mais fortes em grupo do que individualmente, mas, acima de tudo, fazemo-lo porque gostamos da companhia uns dos outros. Afinal, a experiência existencial do indivíduo humano é ampliada e enriquecida pelo contacto com os seus semelhantes.

Este bando a que pertencemos tem o pomposo nome de sociedade. Em última análise, não passa de um aglomerado descomunal de inúmeros macacos pelados que se passeiam pelo mundo sem saber muito bem porquê nem para quê. Mas é um conjunto que se tornou tão vasto e heterogéneo, que se subdividiu e deu origem a incontáveis subconjuntos dentro de subconjuntos, multiplicando-se no sentido da especialização dos indivíduos. Naturalmente, todo este intrincado sistema necessita de ser regulado, disciplinado e manipulado por leis, regras e códigos que acompanhem a sua sempre crescente complexidade, pois muitas cabeças a pensarem ao mesmo tempo, sem uma estrutura comum que as apoie e direccione, confluem necessariamente na ruptura do conjunto.

Porém, enquanto certos indivíduos estão satisfeitos com o modo de funcionamento do sistema (ou vão fazendo por isso) e aceitam as regras, outros há que nem por isso. Obviamente, o indivíduo modelo é aquele que contribui para o bom funcionamento do conjunto, ou seja, o que fielmente se regula pelas leis instituídas. Contudo, e como se rege sempre pelas regras, esse indivíduo acaba por nunca sobressair especialmente na vida em sociedade, quer pela positiva, quer pela negativa, o que o torna naquilo que comummente é apelidado de “pessoa normal.” Se isso o incomoda? Pelo contrário! Aquilo a que ele mais aspira é precisamente a ser normal, fazer parte do conjunto, integrar-se. Porque o sistema até pode estar longe de ser perfeito, mas é o melhor que temos e a vida já é suficientemente complicada sem tentar remar contra a maré... Por outro lado, aquele que não se encaixa nas engrenagens da máquina social, o inadaptado que nela produz atritos e avarias, é um indivíduo que questiona as regras (e permitam lembrar que questionar não significa necessariamente quebrar nem simplesmente reclamar). Para o indivíduo normal, porém, esse gajo não passa de um anarquista, delinquente, ignaro ou louco. Ou artista, claro. Afinal, aquilo que caracteriza o indivíduo de espírito criativo ou imaginativo é habitualmente uma visão singular do universo que o rodeia, que decorre precisamente do facto de estar insatisfeito e questionar o que se passa à sua volta. Por isso, é invariavelmente encarado como uma peça defeituosa do sistema.

No fundo, o indivíduo normal não passa de um conformado, demasiado amedrontado para correr riscos. Para se justificar perante si mesmo, prefere acreditar que é o inadaptado quem está errado. É mais fácil chamar louco ao espírito insatisfeito não manietado pelas regras do sistema, do que questionar-se sobre a sua própria condição de marioneta que se esforça por seguir padrões de vida formatados por uma sociedade castrada e castradora. No entanto, é óptimo que existam gajos normais, que seguem cegamente as regras. Afinal, se a sociedade fosse integralmente composta por inadaptados, seria certamente dissolvida por discussões que nunca levariam a lado nenhum. E, no fundo, é fixe pertencer a uma minoria e poder chamar carneirada aos demais.

terça-feira, novembro 16, 2004

INCESTO INFERNAL

Estou apaixonada pelo meu irmão adoptivo. Sempre partilhámos grande intimidade e é a ele e ao seu apoio que sempre recorro em alturas de necessidade. Com a chegada da idade adulta, apercebi-me que gosto dele mais do que como irmão e acho que o meu sentimento é correspondido. Mas ele mantém-se à defensiva. Acho que se sente reprimido pelo facto de termos sido criados como irmãos e julgo que tem medo de ter de cortar com a minha família, que ele sempre tratou como se fosse a sua, caso uma relação entre nós dê para o torto. Se ele não me fosse tão importante, afastava-me, mas sinto que ele pode ser a minha alma gémea! Que fazer?...
Leitora anónima

Permita-me avisá-la desde já, cara amiga, que o incesto é um carimbo no passaporte para o Inferno! Com direito a chamas eternas, rios de fogo, sofrimentos infindáveis, diabos chifrudos, enfim, tudo aquilo a que tem direito. É esse o castigo para os heréticos que, como você, querem saltar para a cueca dos próprios irmãos. No entanto (e se isso a consola), está em excelsa companhia. Porque, afinal, quem é que inventou o incesto? Os filhos e filhas de Adão e Eva, nem mais! Porém, ao contrário de si, essa gente sempre se pode desculpar dizendo que não havia mais ninguém no mundo para fornicar para além dos próprios irmãos (embora eu aposte que, no meio dessa rebaldaria desbragada, alguns houve que não tiveram pejo em mandar umas trancadas nos próprios pais). Mas havia que dar continuidade à espécie, não é? E eu acredito que os demónios infernais até lhes dão menos uma ou duas chibatadas por século, em atenção a essas atenuantes.

Quanto a si, cara amiga, o facto de o rapaz ser adoptado torna a sua falta bem mais leve. Não se livra do pecado, pois o facto é que você, sua debochada, foi criada como irmã do homem a quem quer desencaminhar, mas é um incestozinho menor, daqueles que a sociedade até permite. Tal como os enlaces entre primos directos – toda a gente sabe que “quanto mais prima, mais se lhe arrima,” não é verdade? Portanto, esteja descansada. Com certeza lhe está reservado um lugar nos círculos infernais superiores, onde o sofrimento é um pouco menos intolerável, e onde se despeja a ralé inferior, a canalha que não tem coragem para pecar a sério. Ou seja, não tenha pretensões de conhecer o Marquês de Sade por essas bandas. Mas, enfim, não há nada perfeito.

Passemos então à questão em causa. Pelo que conta, o seu irmão parece ter mais respeito que você pelas leis sagradas. Contudo, se bem que a questão do incesto possa ser facilmente torneada, já que ambos não partilham verdadeiros laços de sangue, os receios dele relativamente aos laços familiares não são despropositados. Uma relação amorosa falhada entre os dois culminaria necessariamente na ruptura no seio da família. É inevitável – todos os rompimentos amorosos exigem um afastamento entre as partes envolvidas. E ele deve ser respeitado, pois só assim pode o tempo actuar no sentido de curar as mazelas emocionais. Contudo, nada obriga que esse afastamento seja necessariamente definitivo. Desde que haja vontade de ambas as partes, o reatamento dos velhos laços de comunhão familiar é perfeitamente possível após o afastamento.

Posto isto, e se está realmente segura dos seus sentimentos para com o rapaz, só lhe resta uma opção: abrir o jogo. Dada a delicadeza da situação, é melhor que ambos sejam sinceros e estejam bem certos de querer uma relação amorosa, sob pena de provocar uma ruptura na família se o não fizerem. Não tenha receio de abrir o jogo, seja romântica e atire-se de cabeça. Lembre-se que é sempre melhor para si lutar pelo que acredita e perder, do que viver uma vida frustrada e na interrogação do que poderia ter sido. Não são apenas palavras bonitas; mais que isso, exprimem a diferença entre encarar-se a si mesma como uma lutadora corajosa (e, muito bem, talvez até um pouco suicida) ou como uma frustrada medrosa. Além disso, nunca se sabe se o seu adorado irmão não está ardentemente desejoso de passar uma eternidade tórrida consigo no Inferno...

sexta-feira, novembro 12, 2004

BREAK UP SEX

Comentários a propósito de “Duvidar ou Acreditar,” de quinta-feira, 30 de Setembro, n’ “A Goela”:
eu vou ter de fazer a pergunta à road trip? comeste a rapariga antes de a deixar? come-se SEMPRE a rapariga antes de a mandar embora...
Leitor identificado

(...) que raio de pergunta!!É claro que sim!!!
Leitora identificada

oh não fosse ele o jacaré!
Outro leitor identificado

Lamento desiludi-los, caros amigos, mas a verdade é que, mesmo que quisesse, não o poderia ter feito. Se bem se lembram, eu sofrera umas três semanas antes um acidente de viação que me deixou com uma clavícula fracturada e um traumatismo na uretra. Se bem que o acidente (felizmente!) não tenha afectado em nada a minha capacidade de excitação e erecção, o facto é que, com um tubo enfiado na região supra-púbica (a meio caminho entre a pila e o umbigo), não me sinto nada tentado a roçar o meu baixo-ventre em movimentos repetitivos de vaivém seja em que rapariga for, por muito macia e apetitosa que ela seja. Isto para não referir o facto de arrastar constantemente comigo um saco colector de urina (vulgo saquinho de mijo) que, quer se queira, quer não, é um brutal turn off e está mui longe de me fazer sentir sexualmente desejável.

Além disso, relembro-os também que a canalização está entupida. Calculo que tentar ejacular nessas condições seja, no mínimo, doloroso. No máximo, imagino um resultado tiro-pela-culatra semelhante ao que sucede ao Elmer Fudd sempre que o gajo descarrega a caçadeira no Bugs Bunny quando este tem o dedo enfiado pelo cano acima – BOOM!!!

Para terminar, eu só cheguei à conclusão que tinha de terminar a relação com a Ruiva quase uma semana depois dela ter regressado ao norte, após os dias que passou em Lisboa. Ou seja, com mais de trezentos quilómetros a separar-nos, mui dificilmente conseguiria mandar-lhe uma trancada antes de terminar o namoro. É claro que eu poderia ter gerido as coisas de maneira diversa... Por exemplo, poderia sempre ter viajado de urgência até ao Porto para acabar com ela... e, de caminho, toma lá! Ou, melhor ainda, poderia ter esperado para acabar com ela mais tarde, após a minha recuperação e por ocasião de novo reencontro entre nós. E, entretanto, ia mantendo a relação de longe, enquanto me entretinha na capital com outra(s) menina(s). Afinal, e tirando o que eu lhe contava, que poderia ela saber da minha vida em Lisboa? Nada!

Sim, eu poderia ter gerido as coisas de outro modo. Poderia tê-lo feito, caso fosse um egoísta calculista e sem escrúpulos, disposto a pisar em quem quer que fosse para benefício próprio. Não me interpretem mal, pois isto não significa que eu não seja um grande rebarbado! Sou-o e afirmo-o com orgulho! Contudo, não estou tão desesperado por sexo que tenha necessidade de enganar seja quem for para conseguir aquilo que quero.

Por outro lado, e ainda que não precisasse de a enganar, caso ela estivesse disposta a uma última para o caminho, devo confessar que não sou partidário do break up sex. É sexo vazio e sem sentido que, nitidamente, serve apenas para apaziguar a carne pelo acabar de uma relação. É sexo que está muito longe de me satisfazer. Por isso, não acredito em sexo de acabar. Acredito, sim, em sexo de começar, em sexo de acreditar. Acredito em sexo de amar. E prefiro recordar uma relação passada pelos momentos em que amei e acreditei. Que o resto, deita-se fora.

terça-feira, novembro 02, 2004

BECO SEM SAÍDA

Caro Jacaré, tenho uma questão para lhe colocar. Estou a ficar apaixonado por uma rapariga com quem tenho partilhado uma crescente intimidade. E creio ser correspondido, apesar dela estar comprometida há uns anos. Mas tal como o Jacaré disse na sua última resposta, tenho receio que ela fuja caso eu decida abrir-lhe o meu coração e, por outro lado, não quero saltar-lhe em cima, porque não desejo apenas uma queca com ela, quero uma relação a sério. O que me aconselha?
Leitor identificado

Detesto dizer-lhe isto, mas o meu amigo tem aí a questão amorosa mais madrasta de todos os tempos!... Pensa que estou a brincar? Ha! Quer saber o que faz desta a questão mais madrasta de todos os tempos? Eu digo-lhe: o facto do meu amigo estar apaixonado e da eventual consumação desse amor não depender de uma decisão sua – está tudo nas mãos dela. Tudo! Incluindo você e a felicidade que almeja. E é isso que é ingrato.

Toda e qualquer acção sua que leve directamente a um envolvimento físico entre os dois (e isso inclui tudo desde os beijos e amassos até à queca) é feitiço que se pode virar contra si. Uma rapariga que hoje encorna o namorado consigo, acabará por encorná-lo a si amanhã com outro qualquer. E, por favor, não se iluda com a ideia de que você é diferente porque ela o ama – quem lhe diz a si que ela também não amava (ou ama ainda!) o outro que actualmente namora com ela?... Portanto, muito cuidado com esta via de acção. Pode sempre, no entanto, recorrer a ela para testar o carácter da menina em causa. O pior que pode acontecer é ela revelar-se uma vaca desavergonhada que vai com todos, destroçando assim o seu puro coraçãozinho apaixonado. Seja como for, e apesar de tudo, você fica a saber com que tipo de pessoa está na verdade a lidar.

Outra opção é ser sincero e abrir o jogo. Ou seja, dizer-lhe que gosta dela e que quer namorar com ela. Assegure-se, porém, de que a sua eleita não tem qualquer dúvida de estar apaixonada por si e já não sentir nada pelo actual namorado (e é imperioso verificarem-se ambas as condições – qualquer uma delas isoladamente é insuficiente). Caso contrário, e ainda que ela aprecie mais a sua companhia que a do próprio namorado, dificilmente trocará uma relação que, mesmo que não a satisfaça a todos os níveis, já provou funcionar (ou não namorasse ela há anos) por algo que, no fundo, é uma grande incógnita. Esta situação é um círculo vicioso: enquanto ela namorar, não está livre para tentar uma relação consigo e, enquanto não tiver oportunidade para tentar uma relação consigo, ela não poderá decidir se vale a pena abdicar da sua relação actual por si.

Resultado: você está num beco sem saída. Impedido de lhe saltar em cima e de lhe revelar os seus sentimentos, resta-lhe apenas rezar, fazer figas e esperar (sentado!) que, um belo dia, ela chegue por si própria à conclusão que é você quem ela quer. Fat chance – sabem lá elas o que querem! Claro que o meu amigo pode sempre ajudá-la a atingir essa conclusão, provando-lhe o seu amor com uma(s) daquelas tiradas à filme, como encher-lhe a casa de flores ou alugar um avião para escrever o nome dela no céu e outras tretas do género. Das duas, uma: ou ela o considera um louco furioso e foge de si a sete pés ou, efectivamente, acaba por se render às suas exuberantes provas de amor. Seja como for, lembre-se que fazer loucuras dessas têm a desvantagem de levantar a fasquia para si próprio! Depois de conquistada a dama, você tem de viver a relação de acordo com as altas expectativas que a menina tem de si e que você mesmo criou!

Em conclusão, e se acha mesmo que ela vale o sacrifício, seja paciente e aguarde que ela tome uma decisão. Claro que, a menos que o namoro dela apodreça de vez e ela fique livre para si, você só vai perder tempo à espera. Conselho de Jacaré: faça-se à irmã dela ou à sua melhor amiga – o ciúme opera maravilhas. E o meu amigo sempre se mantém entretido.