quarta-feira, setembro 26, 2007

CERTEZAS DE JACARÉ

Não gosto das certezas que o Jacaré tem, ou julga ter, ou quer ter. Para mim, a vida não é feita de certezas, é feita de questões. Todas as respostas (...) são relativas!
Leitora identificada.

Se há coisa que provoca irritação a uma mulher é um homem com certezas, especialmente um homem com certezas no campo amoroso. Muito gostam elas de atroar as fantasias açucaradas e desmioladas de que o Amor é tão grandioso quanto irracional e inexplicável e não pode ser compreendido, calculado e, muito menos, manipulado, pois cada nobre espécimen desse elevado género que é o feminino é único pela originalidade que o caracteriza e diferencia dos demais. Desiluda-se já, homem ignaro, se pensa que, por meio de uma qualquer fórmula obscura e de intenções no mínimo amorais, pode reduzir essa deslumbrante miríade de singulares seres a um mesmo denominador comum, fazendo tábua rasa de todas as características distintivas que fazem de cada uma dessas criaturas uma obra de arte ímpar. Segundo elas, qualquer homem devia remeter-se à ignorância de que até Freud deu provas e não procurar compreender como funciona o género feminino, cujo sublime encanto só é igualado (e mantido) pelo mistério em que está envolto.

Sem querer enveredar pela discussão ociosa acerca dos mistérios do Universo que cabe ou não à raça humana desvendar (pela minha parte, gosto de pensar que TUDO tem uma explicação, desde a Maldição dos Faraós, ao Triângulo das Bermudas, Roswell, Deus e, cá está, o Amor), concordo que um Universo sem segredos, onde o imprevisto não tem lugar, é o princípio do aborrecimento total. O grande mágico, quando revelado, torna-se mero ilusionista. Porém, havemos de nos auto-destruir muito antes de ver desvelados todos os mistérios da existência. Portanto, sem stress.

Posto isto, não me parece que levar uma existência enterrado sob todas as questões e dúvidas que o Universo coloca, evitando comprometer-se seja com o que for porque não existem certezas absolutas sobre nada, seja atitude inteligente para o ser pensante que é o Homem. Nunca teríamos saído do Paleolítico (se calhar, nem teríamos lá chegado!) se os nossos avozinhos macacos (bem mais limitados intelectualmente que nós) não tivessem questionado, formulado, experimentado e concluído as suas concepções acerca do mundo que os rodeava. Porque se determinado fenómeno se produz da mesma maneira mil vezes seguidas, não é o caso em que não acontece que nos impede de criar a regra em que fundamentar as nossas convicções. A excepção não nega a regra. O problema das gajas é que todas e cada uma delas tem a mania que é a tal excepção. Parecem esquecer-se que, antes de serem mulheres, são seres humanos, com tudo aquilo que nos define e caracteriza enquanto espécie. Não há como escapar. E não será uma prova disso o facto de até no quererem ser diferentes elas serem todas iguais? Portanto, porque não criar regras? Ainda que existam excepções, um gajo pode sempre desprezá-las com um encolher de ombros, pois, enquanto não passarem de casos isolados, não invalidam em nada a norma geral.

E o facto é que pouco importam as certezas que cada um tem. O indispensável mesmo é tê-las, pois um gajo precisa delas para tomar decisões. Como pode alguém que só vê dúvidas e questões na vida escolher uma via de acção em detrimento de outra, se não tem certezas sobre nenhuma delas? Atirando moeda ao ar? Muitas vezes, pensar não serve de nada – torna-se imprescindível tomar acção para pôr as coisas a mexer. Porque as acções tomadas, coisa gira, influenciam os acontecimentos subsequentes, de acordo com a posição adoptada. Portanto, se eu acredito que todas as mulheres me desejam e, acima de tudo, ajo como o ser irresistível que sou, o meu comportamento leva-as, no mínimo, a perguntar-se quanto daquilo será verdade. E como têm de me conhecer para o descobrir, logo se mostram disponíveis para tal. Que é exactamente o que eu, à partida, acredito que elas querem. Da certeza à acção. E da acção à reacção. Qual é a dúvida?