quarta-feira, março 08, 2006

GUERRA SANTA

sp me incomodou uma beca a minha namorada ir á church.ela nao reza em casa,nao fala disso,nao é fanatica,n usa cruzes,mas pronto,isso sp me incomodou,e eu ate falei imensas vezes disso com ela.algum concelho?
Leitor identificado

Quer um conselho, meu amigo? Então, aqui vai: tivesse pensado nisso antes de se envolver com a rapariga. Porque agora só lhe resta comer, calar e gostar. Isto, se estiver interessado em manter essa relação, claro. Incomodam-no as crenças religiosas da sua mais-que-tudo? Ignore-as. Se o que tem a dizer sobre o assunto não é simpático, então fique calado. Guarde as suas opiniões para quem o compreende. Não compre uma guerra da qual ninguém pode sair vencedor. Mantenha-se longe de conflitos religiosos, evite zombar ou desdenhar de convicções alheias, não queira iluminar nem converter seja quem for, em suma, fuja desse assunto como o Diabo da cruz (passe a expressão)! Se as minhas palavras não chegam para o convencer, reflicta em alguns episódios representativos da História da Humanidade, como são as Cruzadas, a Inquisição ou o conflito Israelo-Palestiniano, para se compenetrar de que nada de bom advém de desavenças religiosas.

O assunto da religião pode ser altamente danoso para a relação amorosa. A colisão entre pontos de vista antagónicos, a que se junta a desilusão de descobrir que a cara-metade não partilha as suas opiniões, pode ter consequências deveras nefastas entre duas pessoas que se conhecem intimamente e sabem bem onde devem tocar para magoar. A religião, a par do futebol e da política, faz parte do grupo dos Três Temas Tabu que nunca, seja porque razão for, deve discutir com a sua mais-que-tudo (quando ela tem uma opinião contrária à sua, é claro). Porquê? Porque qualquer destes assuntos lida com convicções inabaláveis, crenças arreigadas e fés imutáveis. E pôr em causa as devoções mais fundamentais de uma pessoa é invariavelmente entendido pela mesma como se ela própria fosse posta em causa. Por outras palavras, se o meu amigo despreza as crenças religiosas da sua miúda, em última análise, também a despreza a ela. E ela, sentindo-se pouco valorizada, rapidamente se livra de si. Ou, pior, encontra quem lhe dê valor fora da relação.

Posto isto, parece-me ser essencial para o homem (ou mulher) que pretenda embarcar numa relação duradoura conhecer a mulher (ou homem) em causa – e, em especial, as suas opiniões e convicções – antes de se envolver amorosamente com ela (ou ele). Contudo, a nossa cultura amorosa moderna, fruto de uma revolução sexual que degenerou num liberalismo de fast food emocional, não se coaduna com este tipo de precaução. E, verdade seja dita que, se um gajo se propõe conhecer todas as gajas que lhe interessam antes de as engatar, acaba por nunca comer nenhuma! Incontáveis relações se iniciam todos os dias exactamente e porque os intervenientes não se conhecem minimamente. Porque, se se conhecessem... não quereriam envolver-se.

Em conclusão, resta-me aconselhar-lhe que pese muito bem as consequências da disparidade de convicções religiosas na sua relação. Se isso o irrita para além da sua capacidade de tolerância, mande a miúda à fava sem demoras e procure outra que não “vá à church.” Se, não obstante, acha que a rapariga vale a pena, então evite o assunto da religião, para prevenir potenciais conflitos. Mas, neste caso, é melhor mentalizar-se. Porque a sua querida vai sem dúvida querer casar pela Igreja, baptizar os seus rebentos, metê-los na catequese aos Domingos e vê-los fazer a Primeira Comunhão e o Crisma... E muita sorte tem você se ela não quiser sexo só depois do casamento!

Post Scriptum: Este texto é dedicado ao meu bom amigo Sky, de partida para a Polónia, em perseguição do amor da sua vida. Boa sorte! Depois não se esqueça de me convidar a dar lá um pulinho no Verão, para me apresentar à irmã gémea da sua bela deusa polaca. Nazdrowie!