BECO SEM SAÍDA
“Caro Jacaré, tenho uma questão para lhe colocar. Estou a ficar apaixonado por uma rapariga com quem tenho partilhado uma crescente intimidade. E creio ser correspondido, apesar dela estar comprometida há uns anos. Mas tal como o Jacaré disse na sua última resposta, tenho receio que ela fuja caso eu decida abrir-lhe o meu coração e, por outro lado, não quero saltar-lhe em cima, porque não desejo apenas uma queca com ela, quero uma relação a sério. O que me aconselha?”
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Detesto dizer-lhe isto, mas o meu amigo tem aí a questão amorosa mais madrasta de todos os tempos!... Pensa que estou a brincar? Ha! Quer saber o que faz desta a questão mais madrasta de todos os tempos? Eu digo-lhe: o facto do meu amigo estar apaixonado e da eventual consumação desse amor não depender de uma decisão sua – está tudo nas mãos dela. Tudo! Incluindo você e a felicidade que almeja. E é isso que é ingrato.
Toda e qualquer acção sua que leve directamente a um envolvimento físico entre os dois (e isso inclui tudo desde os beijos e amassos até à queca) é feitiço que se pode virar contra si. Uma rapariga que hoje encorna o namorado consigo, acabará por encorná-lo a si amanhã com outro qualquer. E, por favor, não se iluda com a ideia de que você é diferente porque ela o ama – quem lhe diz a si que ela também não amava (ou ama ainda!) o outro que actualmente namora com ela?... Portanto, muito cuidado com esta via de acção. Pode sempre, no entanto, recorrer a ela para testar o carácter da menina em causa. O pior que pode acontecer é ela revelar-se uma vaca desavergonhada que vai com todos, destroçando assim o seu puro coraçãozinho apaixonado. Seja como for, e apesar de tudo, você fica a saber com que tipo de pessoa está na verdade a lidar.
Outra opção é ser sincero e abrir o jogo. Ou seja, dizer-lhe que gosta dela e que quer namorar com ela. Assegure-se, porém, de que a sua eleita não tem qualquer dúvida de estar apaixonada por si e já não sentir nada pelo actual namorado (e é imperioso verificarem-se ambas as condições – qualquer uma delas isoladamente é insuficiente). Caso contrário, e ainda que ela aprecie mais a sua companhia que a do próprio namorado, dificilmente trocará uma relação que, mesmo que não a satisfaça a todos os níveis, já provou funcionar (ou não namorasse ela há anos) por algo que, no fundo, é uma grande incógnita. Esta situação é um círculo vicioso: enquanto ela namorar, não está livre para tentar uma relação consigo e, enquanto não tiver oportunidade para tentar uma relação consigo, ela não poderá decidir se vale a pena abdicar da sua relação actual por si.
Resultado: você está num beco sem saída. Impedido de lhe saltar em cima e de lhe revelar os seus sentimentos, resta-lhe apenas rezar, fazer figas e esperar (sentado!) que, um belo dia, ela chegue por si própria à conclusão que é você quem ela quer. Fat chance – sabem lá elas o que querem! Claro que o meu amigo pode sempre ajudá-la a atingir essa conclusão, provando-lhe o seu amor com uma(s) daquelas tiradas à filme, como encher-lhe a casa de flores ou alugar um avião para escrever o nome dela no céu e outras tretas do género. Das duas, uma: ou ela o considera um louco furioso e foge de si a sete pés ou, efectivamente, acaba por se render às suas exuberantes provas de amor. Seja como for, lembre-se que fazer loucuras dessas têm a desvantagem de levantar a fasquia para si próprio! Depois de conquistada a dama, você tem de viver a relação de acordo com as altas expectativas que a menina tem de si e que você mesmo criou!
Em conclusão, e se acha mesmo que ela vale o sacrifício, seja paciente e aguarde que ela tome uma decisão. Claro que, a menos que o namoro dela apodreça de vez e ela fique livre para si, você só vai perder tempo à espera. Conselho de Jacaré: faça-se à irmã dela ou à sua melhor amiga – o ciúme opera maravilhas. E o meu amigo sempre se mantém entretido.
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