quarta-feira, junho 14, 2006

KARMA

Cada um tem aquilo que merece.

Eis uma das elocuções menos meigas da Lei de Retribuição Universal, que estabelece que um indivíduo é recompensado (por Deus, pelo Destino, pelo Universo, por aquilo que se quiser – ou em que se acreditar) de acordo com as acções por si praticadas ao longo da(s) sua(s) vida(s). Aqueles que me conhecem mais intimamente estão bastante acostumados a ouvir esta frase da minha grande boca de Jacaré. Digo-o sempre em tom de brincadeira – e, muitas vezes, tendo a mim próprio como alvo. Contudo, não é raro quem me ouve mostrar-se melindrado com o que considera ter de injusto a afirmação que eu considero ser evidente. Dizem-me que nem sempre uma pessoa merece os azares que lhe calham na vida. Por exemplo, que culpa tem uma criança para merecer nascer num país subdesenvolvido do 3.º Mundo? Ou no seio de uma família disfuncional? Ou com uma deficiência genética lixada, a nível mental, físico ou sexual (assumindo que a homossexualidade decorre de uma predeterminação genética)?

De acordo com o Espiritualismo, a resposta a estas perguntas reside na vida passada da pessoa em causa. Ou seja, o puto que nasceu mongolóide está a pagar pela merda feita numa vida anterior. Isto pressupõe, consequentemente, a existência de um Marcador de Pontuação transcendente onde ficam registadas todas as boas e más acções de um indivíduo, ao longo das diversas reencarnações da sua alma imortal. O resultado final do cálculo dessas acções constitui o karma do indivíduo, cujo valor pode ser positivo ou negativo, consoante o peso das suas acções no momento considerado faça tombar a balança metafísica para o lado da Luz ou da Treva. Como é fácil de compreender, quanto mais positivo for o karma de um indivíduo, mais ele se livra de dissabores espinhosos – na vida presente e nas seguintes.

Naquilo que me diz respeito, assumo-me como um acérrimo defensor da Lei de Retribuição Universal. A minha mãe ensinou-me a “não fazer aos outros o que não gosto que me façam a mim,” e isso sempre me pareceu um axioma perfeitamente sensato e justo pelo qual regrar as minhas acções. Por outro lado, e embora guarde algumas reservas sobre a questão da reencarnação, concedo que esta parece ser, de facto, a única justificação razoável para uns gajos nascerem mais bafejados pela Sorte do que outros. Independentemente de tudo isto, acredito que cada indivíduo tem nas próprias mãos os meios para moldar o seu Destino, na medida em que, apesar de impotente perante o acaso e a adversidade da vida, ele tem sempre o poder para decidir a via de acção a adoptar face a essa adversidade. Por outras palavras, nós não escolhemos os obstáculos que nos surgem no caminho, mas podemos escolher sempre o modo de lidar com esses obstáculos. E escolhemos, de facto. Mesmo os frouxos que se decidem pela via da não-acção, da passividade ou da abstenção, assumem uma posição e adoptam um caminho que lhes produz resultados específicos e em conformidade com a decisão tomada. E o que é isso senão a capacidade para moldar o próprio Destino? “Cada um deita-se na cama que faz,” não é? Portanto, se um indivíduo detém o poder de escolher o caminho que trilha, é apenas razoável que assuma a responsabilidade que advém desse poder. Nessa perspectiva, e em conclusão, cada um tem de facto aquilo que merece, pois, no fim de contas, é responsável pelas próprias escolhas.

No meu caso pessoal, considero-me actualmente um gajo com muito bom karma. Um reflexo (entre muitos) disso é, sem dúvida, o sucesso que hoje tenho com o género feminino. Se parte desse sucesso se deve à experiência que fui adquirindo ao longo dos anos, outra parte é indubitavelmente devida ao meu bom karma. A minha amiga Sassita diz-me com frequência que “nasceste com o cu virado para a Lua,” porque acha que sou um tipo cheio de sorte. Talvez até seja. Mas eu gosto de acreditar que fiz (e continuo a fazer) por merecer essa sorte.