quinta-feira, março 29, 2007

A PROBABILIDADE DO AMOR

Porque nos apaixonamos pelas pessoas erradas?
Leitora anónima.

Primeiro, porque somos fracos. E temos uma fobia irracional à solidão. Segundo, porque somos carentes. E precisamos ardentemente de ser amados. Terceiro, porque somos estúpidos. E nos iludimos acerca daqueles que desejamos (ou julgamos desejar). E, quarto, porque somos inseguros. E não acreditamos sequer ser dignos de ser felizes.

Seja como for, não é caso para se deixar abater! Saiba que, ainda que fossemos corajosos e auto-suficientes, sensatos e confiantes, era certo que continuaríamos a envolver-nos com as pessoas erradas. E sabe porquê? Porque as probabilidades estão contra nós. E tudo se resume a isso, cara amiga. Quer ver? Façamos as contas. Vamos assumir que você procura um homem como parceiro amoroso. Ora o que não faltam para aí são homens, encontrar um é fácil. (Probabilidades muito elevadas.) Porém, calculo que não lhe interesse um homem qualquer. Talvez prefira alguém dentro da sua faixa etária, mais coisa, menos coisa. (As probabilidades estreitam bastante, mas continuam altas.) Contudo, você pretende ainda que ele seja simpático e educado. (Reduz as hipóteses.) E, já agora, bem parecido. (Menos chances.) E inteligente. (Isto vai bem...) Bom na cama. (Ai ai...) Sensível. Atencioso. Compreensivo. (Diminui, encurta, encolhe.) Bem disposto. Bom ouvinte. (Não acha que está a pedir demais?) Romântico e atencioso. Tem de gostar de crianças. Ter um bom emprego. (Eu cá já deixei de contar...) Não ser ciumento – ou talvez só um bocadinho. Cheirar bem. Oferecer-se de vez em quando para cozinhar e/ou lavar a louça. E ainda ______________________________________ (acrescente aqui todas as outras qualidades que deseja num parceiro amoroso. O espaço é curto, eu sei, mas sinta-se à vontade para me enviar um e-mail com o que não couber no sublinhado. Tenha apenas em atenção que a capacidade da minha caixa de correio electrónico é de somente 2.8 Gband counting).

Como pode perceber por este simples exercício, à medida que aumentam a quantidade e a qualidade (em termos de especificidade) de características que procura naquele a quem desejaria consagrar o seu anelante coração, diminuem, por seu turno, as probabilidades de encontrar essa ave rara, na proporcionalidade inversa. Além disso, não bastasse a situação ser já frustrante o suficiente, falta ainda introduzir um último elemento, o mais importante de todos: o sentimento que é imprescindível a criatura nutrir por si para que uma relação amorosa entre os dois seja possível. Sim, porque o homem certo sem o sentimento certo é como um Ferrari sem gasolina: não corre.

Conclusão: a Matemática é cruel. Ela mostra-nos que as chances de nos apaixonarmos pela pessoa certa são tão elevadas quanto apanhar um floco de neve com a língua no deserto do Saara. Simplesmente porque é impossível encontrar a pessoa certa. E é especialmente impossível com tantas pessoas erradas a empatar-nos a busca. Mas não haverá então solução para o problema?

Claro que há: livre-se da ideia absurda de que existe uma “pessoa certa” à sua espera e corte nas exigências. Quanto menos exigências, mais probabilidades. Por exemplo, quem lhe diz que só um homem a pode fazer feliz? A bissexualidade duplica as chances... Mas se essa opção não a tenta, então corte nas exigências menores e aferre-se ao essencial. Se tiver que escolher, prefira o homem sincero que cheira mal da boca ao belo egoísta perfumado – é que o mau hálito resolve-se facilmente com algumas pastilhas, ao passo que o egoísmo nem com terapia de choque lá vai.

Saiba, cara amiga, que a “pessoa certa” é o maior mito da Ideologia Amorosa. A questão mais pertinente no campo amoroso não é encontrar a pessoa certa. É encontrar a menos errada.