sexta-feira, abril 07, 2006

O MELHOR CONSELHO DO MUNDO

São quase duas horas da manhã quando, de regresso a casa, encontro no caminho o meu caro amigo MadMan Chron. Após a breve conversa introdutória de circunstância maldizendo a inclemente vida académica que nos obriga (a uns mais do que a outros) a trabalhar até horas impróprias na faculdade, ele pede-me conselho sobre um assunto de cariz amoroso. E, com o intuito de me inserir no contexto, o meu amigo entrega-se de imediato à prolixa descrição da história decorrida até à data entre ele e uma certa rapariga da sua afeição – novela complicada que mete ao barulho maior número de pessoas que aquele que seria desejável e aconselhável, organizadas nas combinações triangulares (a pentagonais) mais inconvenientes. Combinações essas, diga-se de passagem, sempre especialmente danosas para o meu amigo, que acaba invariavelmente por ser o gajo que não come nada e, ainda por cima, tem de aturar as confusões emocionais tanto da menina em causa como também dos (pseudo) amigos que a andam a comer à sua frente.

“Espera lá, esta história é-me familiar... Tu já não me tinhas contado isto antes?” pergunto eu. Ele confirma. “Então esta gaja é a mesma de quem tu já me falavas no Verão (e não me refiro ao mais recente)?” Ele volta a confirmar, aparentando um certo desalento. “Ainda essa história?! Já te dedicavas a outra gaja, pá!” Este caso já se prolonga há tanto tempo que já apodreceu e cheira mal – e só quem tem o nariz tão entupido de tanto o enfiar neste sórdido assunto é que não percebe isso. Pelo menos o meu amigo já abriu os olhos e agora tenta, a todo o custo, afastar-se desta embrulhada e, em especial, da rapariga em causa. Com pouco resultado, infelizmente, já que são todos colegas na mesma faculdade e, ademais, partilham relações de amizade há largo tempo.

“Queres um conselho?,” pergunto, “Eu posso dar-te um conselho. Tenho o melhor conselho do mundo para ti!” “Já sei,” replica ele, “‘Arranja uma namorada.’ É o que toda a gente me diz...” Ah, quantas vezes não ouvi eu o mesmo umas boas mãos-cheias de anos atrás, quando não passava de um nerd encalhado sem qualquer sucesso com o género feminino. E quantas vezes não senti ganas danadas de desfazer à porrada o desgraçado emissor de tão podre conselho. “É isso que eu ando a tentar fazer, seu acéfalo!” apetecia-me gritar, “A tua solução é exactamente o meu problema!” É como aconselhar um pobre a ser rico, para resolver os seus problemas pecuniários. Além disso, sempre desconfiei dessa solução maravilhosa que encontra numa (nova) paixão a cura para todos os problemas afectivos de um pobre diabo. Contudo, não falta para aí gente iludida que acredita nisso. Serei eu o único a perceber que uma pessoa que sofra de problemas de auto-estima/ carência/ insegurança/ paranóia/ possessividade (riscar o que não interessa consoante a carapuça que melhor lhe serve) não melhora com uma relação amorosa? Pelo contrário, até piora! Porque o medo de perder a pessoa amada agudiza os problemas de afectividade da pessoa em causa.

“Nada disso,” respondo eu, “O que tu precisas é de arranjar mais amigas!” O pior erro que um homem pode fazer é apontar todas as suas baterias a um único alvo. Porque, se falha a pontaria e é rejeitado, fica sem caça, sem auto-estima, com o ego reduzido a caca e na mais absoluta das misérias. A diversidade deve ser palavra de ordem. Tanto em quantidade, como qualidade. Sob a ampla designação de “amigas” cabe toda uma miríade de relações humanas com o género feminino que variam desde as simples amizades de café, de trabalho, de borga, de circunstância ou interesse até às amizades de confidências, amizades fraternas, coloridas, platónicas e até paixões assolapadas. Tudo. E todas estas relações servem o homem, cada qual à sua maneira. Quantas mais – e variadas – amigas um homem tiver, melhor para ele, que não se deixa ir abaixo com uma rejeição. Afinal, o que é que interessa a falta de interesse de uma gaja quando um homem tem dezenas de outras que gostam dele? O tempo é um bem demasiado precioso para ser desbaratado com uma gaja que não nos traz felicidade. E quanto mais e melhores amigas um homem tem, melhor compreende isto. Caro amigo, lembre-se: para quem não (sabe o que) quer, há muito.