quinta-feira, agosto 17, 2006

OS OLHOS TAMBÉM COMEM

Senhor Jacaré, a minha pergunta é simples: acha que um rapaz magro como eu tem hipóteses com as mulheres?
Leitor identificado

Cá está: a questão do aspecto físico é um dos problemas que mais preocupa – e obceca – o ser humano como indivíduo. Sendo que a aparência – ou, no sentido mais lato, a imagem – de um indivíduo constitui a súmula e reflexo das suas idiossincrasias e de todo um estilo de vida que ele procura para si mesmo, existe uma correlação entre esta imagem e o modo como o indivíduo é encarado e, consequentemente, valorizado pela sociedade (e pelos subgrupos específicos que a compõem). Em último caso, até mesmo por si próprio. Assim, mais que mero cartão de visita, a imagem do indivíduo constitui o canal de comunicação entre ele e o mundo, estabelecendo os moldes em que essa comunicação é feita e agindo como mediadora entre um e outro.

Posto isto, caro amigo, analisemos o seu caso concreto. Respondendo à sua questão, não tenho dúvidas que um rapaz magro como você tem hipóteses com o género feminino. Se, lá no fundo, você se sente bem sendo um trinca-espinhas e lhe faltam os meios ou a paciência para investir no campo físico, deixe-se estar. O que importa é que você se sinta bem na sua pele – e o resto que se lixe. Invista antes no campo psicológico. Saiba que a mulher responde menos a estímulos visuais directos que o homem (por isso é que a pornografia é feita para gajos, nunca tinha percebido?), o que significa que “personality goes a long way” (ver “Pulp Fiction”). Tenha uma personalidade encantadora e elas não se importarão (muito) que você seja um escanifrado. Além disto, a raça humana é fértil em perversões e, aparentemente, existe uma corrente de mulheres que prefere os escanzelados. Esforçam-se mais, dizem elas. Portanto, há que investir nesses nichos de mercado. A propósito, aposte também nas anorécticas. É a Lei da Relatividade, meu amigo: para esses esqueletos ambulantes você é um verdadeiro Adónis!

No entanto, se você está cansado de ser apelidado de lingrinhas e olhado pelas mulheres em geral como se as suas capacidades sexuais fossem directamente proporcionais ao seu físico frugal, revolte-se! Dê um murro na mesa (com cuidado, para evitar uma luxação) e tome uma atitude! Se isso o consola, saiba que ninguém está totalmente satisfeito com o próprio aspecto. Felizmente, entre as características que um corpo herda geneticamente, aquilo que é transformado pelo tempo e aquilo que o detentor desse corpo modifica a seu bel-prazer, está compreendido um grande leque de variações possíveis que podem – e são – exploradas cada vez mais intensiva e extensivamente. Lançando mão de operações de alteração e manutenção que vão desde o simples corte de cabelo, passando pela dieta ou pelo exercício físico, até à cirurgia plástica, hoje em dia é cada vez mais possível o magro ser gordo e o gordo ser magro, o moreno ser loiro e o loiro ruivo, o feio ser belo e o belo deslumbrante, o homem ser mulher e vice-versa. Tudo depende do tempo, dinheiro e preocupação que uma pessoa está disposta a investir nessa área. Portanto, caro amigo, faça desporto, inscreva-se num ginásio, altere os hábitos alimentares. Meta esteróides, se quiser, mas não se deixe ficar! Peça ajuda a quem sabe. Informe-se. Com certeza que você tem um amigo do Fitness que não se importará de lhe dar umas dicas nessa matéria...

Antes de acabar, deixe-me porém dizer-lhe que sempre achei sobrevalorizada a questão do físico. Nunca ouviu dizer que “pouco importa o tamanho da coisa; o que importa é o que se faz com ela”? Pois substitua coisa por corpo e o resultado continua válido – tanto para eles como para elas. A experiência ensinou-me que, quando se apagam as luzes, “todos os gatos são pardos.” Se uma pessoa não tira partido do corpo que tem, é indiferente se esse corpo é bom, mediano ou mau (desde que não choque). Porque a diferença está só e apenas nos olhos de quem come.