quarta-feira, julho 25, 2007

CONFIAR OU NÃO CONFIAR: EIS A QUESTÃO

Em conversa entre gajos, discute-se a confiança na relação amorosa. Alguém conta que, há apenas uma semana atrás, combinara ir jantar com a sua mais-que-tudo e esta o deixara a secar uma hora à sua espera para o encontro. “Mas o pior,” diz o nosso amigo, “foi que ela se esqueceu de mim por causa de outro gajo.” Ora acontece que a dita menina tinha ido almoçar a casa de um amigo seu nessa tarde, a convite dele para “discutir Arte” (manifestações imediatas de cepticismo entre os presentes – “já ouvi chamarem-lhe muita coisa, mas é a primeira vez que ouço essa,” “o que ele quer, sei eu,” etc.). Pois, ao que parece, a conversa estava tão boa que ela deixou passar a hora do encontro com o namorado. “Pôrrrra!” atira um dos ouvintes. “Nem sei o que faria no teu lugar! Ou melhor, sei. Fazia uma de três coisas: dava um tiro na própria cabeça, ou dava um tiro na cabeça dela, ou dava um tiro na cabeça do outro! Fora isso, não estou a ver mais alternativas...”

Mas o nosso basbaq... quer dizer, bravo rapaz, viu. “Se querem saber, até reagi mais calmamente do que esperava,” diz ele. “Estava todo lixado, claro, e fiz-lho sentir. Mas ela disse que se sentia tão mal com aquilo, e que apenas tinha feito confusão com as horas e isso é compreensível, e que era impossível esquecer-se de mim porque estou sempre na cabeça dela – tanto que, durante a conversa com o outro, pensou inúmeras vezes que gostava de discutir certos aspectos mais tarde comigo –, e que está completamente apaixonada por mim e se sentia horrivelmente por me ter magoado daquela maneira... que eu não pude ficar zangado e achei por bem acreditar nela.” O adepto dos tiros na cabeça mantém-se inflexível: “Eu não teria sido tão brando como tu, pá. Já ouvi tantas desculpas dessas, que estou imune a isso. A gaja ia ter que se esforçar muito mais para eu lhe perdoar essa merda!” Mas o outro discorda: “De que me servia amuar ou ficar zangado com ela? A verdade é que eu não tenho razões para duvidar da sua palavra. Até hoje, nunca tive. E se começasse a duvidar agora, ia duvidar sempre. E eu não quero uma relação assim, portanto...”

“Seja como for,” aconselha um terceiro, “no teu lugar, eu teria cuidado daqui para a frente. Ela até pode ser cega e não ver que aquilo que o outro quer é ‘discutir Arte’ corporal, mas tu abre-me bem os teus olhos...” Fala alguém que, nem há coisa de uma semana, descobriu que a sua namorada o encornara com outro. Ele perdoou-lhe (ou melhor, fechou os olhos), porque a ama, mas agora não perde oportunidade para espiar as suas mensagens de telemóvel e recorre a todos os seus conhecimentos no campo informático para sondar as conversas da dita menina nos chats online. Claro que não tem tido descanso (de espírito) desde então e ele próprio já chegou à conclusão que o seu namoro, nestes moldes, está destinado a acabar. Como ele diz: “Gostar só, não basta.”

É por isso que, bem vistas as coisas, eu concordo com a visão do tans... quer dizer, do campeão da espera à namorada. Daqui por uns tempos (e, se calhar, nem vai ter que esperar muito, o papalvo), ainda corre o risco de vir a descobrir que a sua preciosa menina anda a “discutir Arte” em casa – e na cama – de qualquer bicho careta que nem sequer sabe distinguir as cores primárias das secundárias. Mas, até lá, é sem dúvida ele (o otário) quem tem a vida amorosa mais saudável. Até pode ser um corno, concedo, mas é um corno em paz com a sua consciência. Não deve nada a ninguém. E não tem nada de que se envergonhar, porque ninguém está livre de ser corno. Mais: todos vestem essa pele pelo menos uma vez na vida. Além disso, há coisas piores do que ser corno. Corno manso, por exemplo, é bem pior – uma coisa é ser corno; outra é gostar de o ser.

Sou de opinião que uma relação amorosa sadia deve ser fundada sobre a confiança. Portanto, se um gajo não pode confiar na sua amada, que se livre dela sumariamente. Caso contrário, espera-o uma vida de constante suspeita, ansiedade e angústia. E quem quer isso? Um namoro deve ser fonte de prazer, e não de sofrimento. Só os masoquistas – e as mulheres (estas por motivos diferentes daqueles, entenda-se) – é que têm estômago para aguentar uma relação assim.