quarta-feira, setembro 01, 2004

PAIXÕES VIRTUAIS

Conheci uma rapariga na net há uns quatro anos e desde então ficámos amigos. Nunca nos vimos em pessoa, mas partilhamos actualmente bastante intimidade. Mas nos últimos tempos ela tem andado cada vez mais insistente para o meu lado e recentemente declarou-me o seu amor. Eu até gosto dela como amiga e também a acho gira, mas isto parece-me tudo muito precipitado da parte dela. Será que há razão para interesse? Que devo fazer?
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Parafraseando a minha irmã, não percebo como é que o pessoal de antigamente fazia para namorar quando não havia Internet! Os meios modernos de comunicação são assombrosos! Permitem coisas que, há alguns anos atrás (e não é necessário ir muito longe), seriam totalmente descabidas! Quem diria ser possível estabelecer uma relação amorosa com alguém com quem nunca se esteve pessoalmente?

Para mim, casos como este só servem para confirmar algo que há muito tempo observo à minha volta: há muita carência afectiva por esse mundo afora. Toda a gente anseia por um pouco de atenção. Ao ponto se de agarrarem desesperadamente a quem quer que dispense um pouco. Até mesmo alguém que nunca se viu ao vivo. Ou especialmente alguém que nunca se viu ao vivo.

Porquê “especialmente”? Quando conhecemos pessoalmente alguém, há uma quantidade inconcebível de informação que passa sub-repticiamente – desde a postura do nosso interlocutor ao seu timbre de voz, aos seus gestos e ao seu olhartudo nos fornece dados sobre a personalidade da pessoa em causa (e muito mais que o conteúdo da conversa estabelecida!). A soma de todos os dados permite-nos tecer uma impressão positiva ou negativa acerca da pessoa em causa. E, com base nessa impressão, concluímos se nos interessa conhecer melhor a dita personagem... ou não.

Quando conhecemos alguém virtualmente, não temos acesso à tal informação sub-reptícia que existe quando contactamos alguém em pessoa. Assim sendo, damos muito mais importância ao conteúdo da conversa. E criamos a impressão acerca do nosso interlocutor a partir desses dados – impressão que é, obviamente, incompleta. Contudo, se essa impressão for positiva, algo extraordinário acontece: a nossa imaginação preenche os dados em falta sobre a pessoa em causa. E, coisa maravilhosa, preenche-os com nuvenzinhas cor-de-rosa! A impressão positiva (ainda que incompleta) que construímos da dita personagem combina-se com a tal carência afectiva de que todos sofremos para criar do outro lado do monitor, e aos nossos olhos, o Príncice ou Princesa Encantados dos nossos sonhos! Incrível, mas verídico!

Pessoas que basta um mísero olhar (ao vivo, claro; nada de fotos, que as fotos enganam) para sabermos que nem pensar! no way!, de repente podem tornar-se os nossos melhores amigos (ou mais!) só porque nunca lhes vimos as fuças em carne e osso! A Net é, na verdade, democrática – todos têm as mesmas oportunidades! E, à partida, todos são verdadeiramente iguais!

Mas já estou a divagar há demasiado tempo... Vamos lá ao problema em causa. Serve toda esta arengada para mostrar que um gajo nunca deve subestimar o confronto físico. Meu amigo, conhece a rapariga há quatro anos e nunca combinou uma porcaria de um café com ela? Porquê?! Ela vive na Polónia ou quê?! Faça-o, que diabos! Saberá imediatamente se há ou não razão para interesse! E, na pior das hipóteses, só precisa de aguentar meia hora com a gaja!

Mas, como eu sempre digo, o primeiro café não se nega a ninguém!