sexta-feira, maio 26, 2006

O JOGADOR

Recebo uma visita inesperada no meu local de trabalho. “Desculpa aparecer assim,” diz o SpunkMeister, “mas tenho uma questão para colocar ao Jacaré.” Convido-o a sentar-se e a desabafar. Segue-se o briefing. O meu amigo conheceu recentemente uma rapariga, com quem partilhou alguns momentos que ele considerou especiais. Apesar de não ter havido envolvimento físico, houve uma certa atracção emocional que ele acredita ter sido recíproca. Porém, e infelizmente para ele, a rapariga estava em Portugal apenas de visita à família e, portanto, os seus momentos juntos acabaram por ser de curta duração. No momento em que ele partilha comigo as suas dores, já a menina está de volta à Alemanha, onde trabalha actualmente. Para além do óbvio problema da rapariga viver no estrangeiro (cuja solução passa por determinar se ela vale o esforço – e os sacrifícios – inerentes a uma relação à distância e se ele se acha à altura de embarcar nessa aventura), as preocupações do meu amigo são também a outros níveis. De facto, durante a sua curta visita a Portugal, parece que a moça se encontrou uma ou outra vez com um rapaz seu amigo – em casa de quem chegou até a passar uma noite. Porém, e apesar de tudo, o meu amigo foi incapaz de descortinar a verdadeira natureza da sua amizade com este tipo.

“Porque é que gastas o teu tempo a preocupar-te com esse gajo?” pergunto eu. “Ignora-o. Pelo que contas dos vossos momentos juntos, deixaste uma boa impressão na miúda, ela gostou de ti e até te convidou a ir visitá-la à Alemanha. Isso é que importa! O gajo que se lixe.” O meu amigo não parece muito convencido, mas, de facto, que pode ele fazer em relação ao seu rival? Nada. Neste momento, nem sequer tem a certeza se ele é ou não um rival! Além disso, saber que o tal gajo anda a comer a gaja toda (ou a tentar fazê-lo) só lhe pode é atrofiar as ideias, portanto, ele faz melhor em ignorar o assunto. A verdade é que o outro chegou primeiro, conhece a rapariga há mais tempo e, ao que parece, já tem uma relação consolidada com ela. Pelo seu lado, o meu amigo conheceu a miúda apenas no outro dia, praticamente não tem história com ela e a sua relação mal desabrochou. Conclusão: a posição que ele ocupa nesta altura na vida da rapariga não lhe permite questionar as suas amizades. Assim, todos os seus esforços deveriam ser no sentido de aprofundar a relação com a moça. “Deves concentrar-te é no teu jogo. Isso é que é importante.”

Em qualquer competição (e a competição amorosa não foge à regra), o objectivo é ter um jogo melhor que o do adversário, de modo a poder arrecadar o primeiro prémio. Para tal, existem duas maneiras de jogar: sendo simplesmente superior ao adversário, ou arruinando-lhe as jogadas, de modo a torná-lo inferior. Eu prefiro – e aconselho – sempre a primeira opção. Faço-o não tanto por uma questão de princípios, mas essencialmente porque sou demasiado preguiçoso. A verdade é que já me dá trabalho suficiente ocupar-me do meu jogo, quanto mais, ainda por cima, andar preocupado com o jogo dos outros. Além disso, investir no aperfeiçoamento do próprio jogo tem a natural – e óbvia – consequência de o tornar melhor. E, com um bom jogo, basta a um homem inteligente fazer as jogadas certas com a mulher almejada e esperar que a concorrência cometa erros. O que é fatal como o Destino – não faltam para aí gajos canhestros com uma pontaria inaudita para acertar tiros nos próprios pés (sem precisar de qualquer ajuda). No final, é só facturar.

O bom jogador não teme a concorrência e sabe que não perde nada em ceder-lhe a passagem. Além disso o demarcar da molhada amorfa, leva os seus rivais, na ânsia de comer a gaja primeiro, a fazer (ainda) mais merda. E, como é óbvio, quando isso acontece, é ele quem beneficia por comparação aos olhos da menina em questão. Mas ainda que um rival tenha êxito, o bom jogador tem sempre a vantagem de poder aprender com isso. Aprender algo com o adversário que levou a melhor, ou, melhor ainda, acerca da rapariga em causa, pois as escolhas amorosas de uma mulher são altamente reveladoras da sua personalidade e carácter. E, não raras vezes, é precisamente desse modo que um jogador descobre que até foi bom ter sido outro a ganhar o prémio.