quinta-feira, agosto 26, 2004

XEQUE-MATE

Namorei com uma rapariga durante algum tempo, mas acabámos recentemente, durante uma discussão. Depois, eu arrependi-me e quis voltar, mas ela não. Os meus amigos dizem-me para cagar de alto na gaja, mas eu ainda gosto dela e ando a sofrer bués e não quero desistir sem lutar por ela. Será falta de amor-próprio correr atrás dela? Ou é uma prova que realmente a amo?
Leitor anónimo

Deixe-se de lérias e faça-se homem, caramba! Se realmente gosta da rapariga e sente que deve lutar por ela, então lute (mesmo que tenha de ser contra ela própria)! Um homem nunca deve abandonar a liça enquanto não tiver a certeza absoluta que levou xeque-mate. Em vez de se perder em dúvidas acerca da decisão a tomar, faça-se à vida! Tenha tomates, homem!

Existem duas barreiras que impedem um homem de rastejar atrás da mulher que o rejeitou: o orgulho e o amor-próprio. Por vezes, confundem-se, mas não são a mesma coisa. E se é aconselhável um gajo atirar o orgulho para trás das costas, já não é tão aconselhável fazer o mesmo ao amor-próprio. É isto que distingue o Altivo (o orgulhoso cabeçudo) do Capacho (o gajo que se deixa pisar) e do Justo (que não se deixa pisar, mas também não deixa que o orgulho o impeça de mostrar o seu amor por uma rapariga – e de lutar por ela, se preciso for).

Na prática, é muito difícil separar uma coisa da outra (especialmente quando um gajo está cego por amor), portanto, aconselho-o simplesmente a seguir os seus impulsos. Se prefere cagar nela, faça-o. Se acha que deve chorar baba e ranho agarrado às saias dela, faça-o também. Em termos práticos, é igual. Nenhuma das alternativas lhe garante a reconquista da dama. Porque há gajas que adoram que se rojem aos seus pés e outras que preferem ser desprezadas (embora o desprezo, regra geral, se revele bastante mais eficaz, quando usado com savoir faire).

A experiência ensinou este velho Jacaré que não há nada de mal em um homem rastejar atrás de uma mulher, arrojando à lama o seu orgulho e até o seu amor-próprio. Vejo mais coragem nessa atitude, de quem está disposto a sacrificar tudo pelo sentimento, do que na do Altivo, que, basicamente, não passa de um poltrão preocupado com as aparências. Além disso, e eventualmente, o Rastejador há-de aprender à conta das suas cabeçadas. Aprender a dar-se mais valor. E, quando isso acontece, o gajo deixa de perder tempo a correr atrás de quem não o ama.

E, no fundo, é este o busílis da questão: se ela o ama ou não. Aconselho-o, caro amigo a perguntá-lo directamente à sua recente ex-namorada. Se receber qualquer outra resposta que não o “sim,” ponha-se a andar sem sequer olhar para trás – não vale a pena perder o seu tempo com ela. Apenas o “sim” deixa entrever um possível entendimento, já que o problema da viabilidade da relação é exterior ao sentimento. Quanto ao “talvez,” é muito pior que um “não,” porque revela indecisão. E enquanto ela andar indecisa, você não anda, nem desanda. E fica dependente do capricho dela.

“Então e se ela estiver a mentir por qualquer razão, ou equivocada em relação aos próprios sentimentos?” pergunta o ingénuo leitor. Nesse caso, caro amigo, fuja dela como se ela tivesse a peste! A menos, claro, que lhe interesse manter uma relação com uma gaja mentirosa ou imatura, que não sabe o que quer. Gostos não se discutem e longe de mim tentar impingir-lhe que só as raparigas sinceras e seguras de si (e dos próprios sentimentos) valem a pena.

Afinal, as outras também têm que comer e, até calha bem, porque há para aí tanto gajo que não tem unhas para as raparigas maduras...

quarta-feira, agosto 18, 2004

RELAÇÕES À DISTÂNCIA

conheço malta q namora com ppl de mto longe,ate do estrangeiro ás vezes,o jacare era capaz?
Leitor identificado

Caro amigo, para começo de conversa, deixe-me dizer-lhe que sou absolutamente contra relações à distância! Sempre fui e sempre serei. E desaconselho-as vivamente seja a quem for. Não há nada pior que estar longe da pessoa amada! Eu que o saiba, pois falo por experiência própria – com efeito (e infelizmente!), a minha bela Ruiva não é de Lisboa. É de Vila do Conde, acima do Porto!

É lixado, sim, mas podia ser muito pior. Eu podia viver no Algarve e não em Lisboa! era bem mais lixado! Mas, mesmo assim, ainda estávamos no mesmo país. Porque podia ser ainda pior!... E é melhor ficarmo-nos por aqui, porque se há coisa que a vida me ensinou foi exactamente que não há nada que seja tão mau que não possa piorar (e prepúcio!, que já me estou a contradizer! Afinal, chego à conclusão que até deve haver algo bem pior que estar um homem afastado da sua amada e não a poder beijar e abraçar sempre que disso sinta a vontade).

E a verdade é que realmente existem algumas vantagens nas relações de afastamento forçado. Para começar, a vida de um gajo quase não se altera. Tirando as contas telefónicas (que sofrem aumentos brutais, como é natural), tudo o resto permanece mais ou menos na mesma. É esta, provavelmente, a única ocasião em que um tipo pode afirmar com segurança que não deixa de estar com os amigos para passar mais tempo com a sua mais-que-tudo (como se pode perceber, este tipo de relação é excelente para as pessoas independentes, que levam vidas muito ocupadas e não têm tempo a perder com assuntos do coração). Além disso, dado serem raros os momentos em que os namorados estão juntos, dão-lhes muito maior valor e importância. O que, obviamente, só beneficia a própria relação.

Contudo, existe o outro lado da questão. Em termos de interacção física amorosa, as relações à distância deixam muito a desejar. Com efeito, para que é que um gajo arranja uma namorada, se depois não lhe pode saltar em cima porque ela vive em cascos de rolha?! Santa Cópula!, se é para continuar a bater punhetas, não vale a pena arranjar uma namorada ausente!...

... O que nos leva a uma conclusão interessante: as pessoas que apostam em relações à distância (e que, efectivamente, as fazem funcionar) são, regra geral, pessoas para quem a relação amorosa vai muito além da mera interacção física, pessoas a quem interessa o compromisso sério e a longo prazo. Em suma e para resumir, pessoas maduras. Porque ninguém que esteja simplesmente interessado em relações fortuitas e alguma diversão inconsequente se mete numa embrulhada dessas. Ou, se se mete, rapidamente a abandona (ou atraiçoa), porque não suporta os sacrifícios necessários.

Conclusão da história: aqui o Jacaré é uma pessoa madura! Que lindo! Só por ter descoberto isto, já valeu bem a pena ter redigido esta composição.

E lá me lembrei de algo bem pior que estar um homem afastado da sua amada... É não ter quem amar.