segunda-feira, maio 21, 2007

AS BELAS E O MONSTRO

“Devo confessar que a minha ideia sobre ti se tem alterado,” diz-me uma das minhas mais recentes amigas. “Pareces ser algo mais que um rapaz convencido, arrogante e mulherengo! (Desculpa o repto, mas não deixa de ser a verdade sobre as primeiras impressões!)” Eu rio-me. Cada vez mais, parece ser essa a primeira impressão que a minha pessoa causa no género feminino.

E não me incomoda nada que assim seja. É a verdade. Eu sou um mulherengo convencido e arrogante. Mulherengo porque tenho uma adoração imensa pelo género feminino Convencido porque tenho uma excelente imagem da minha pessoa. E arrogante porque não tenho o mínimo pudor em o afirmar. Também já fui chamado de “conquistador” e “engatatão,” e considerado “um sedutor [que vem] apurando cuidadosamente esta arte.” Há quem seja de opinião que me hei-de tornar “um quarentão galante e charmoso com todas as mulheres aos pés.” Muitas acham-me “perigoso,” mas concordam que eu sei sempre o que responder a uma senhora e são unânimes em considerar-me “muito envolvente.” Porém, elas sabem bem que o sedutor é, por definição, um narcisista cheio de manhas que desenvolveu apenas um modus operandi, um método de engate altamente pragmático, frio e calculista (apesar de relativamente primitivo), que aplica indiscriminadamente a todo e qualquer rabo de saia que se lhe atravesse no caminho. E, tendo em conta que qualquer mulher detesta ser encarada como apenas mais uma, não é raro receber delas uma certa resistência para com as minhas investidas (apesar de gostarem do flirt, as malandras).

Em mais que uma ocasião, já aconteceu, por exemplo, uma rapariga recusar-se terminantemente a dançar comigo, a despeito dos meus insistentes convites. Eu sei o que se passa naquela cabecita: “Este tipo deve julgar-se muito bom, com o seu sorrisinho maroto e a conversa doce. Mas ele que não pense que me seduz como faz com as outras. É só chegar, dançar e papar, não? Isso queria ele! Deve fazer isso com todas! Mas, comigo, vai ter que se esforçar! Muito!” Não significa isto que a menina não tenha vontade de se deixar conduzir por mim num ritmo caliente. Pelo contrário. Eu sei bem que a resistência que ela opõe não é tanto dirigida a mim, mas sim a ela própria, por ter medo de se estar a deixar envolver por mim mais depressa e profundamente do que gostaria de admitir a si mesma. Se contraria os próprios desejos, fá-lo apenas para assim se demarcar do resto da carneirada (as outras, que aceitam embevecidas os meus convites para dançar).

Ah, orgulho vão! Ironicamente, até são as gajas que têm a mania que são diferentes da carneirada as que caem mais facilmente na teia do sedutor. Porquê? Porque apenas o simples facto de me considerarem um mulherengo arrogante e convencido já contribui a meu favor. É que, a par dessa conotação negativa, a primeira impressão a meu respeito também revela, por outro lado, que sou um tipo simpático e inteligente. Bem disposto e divertido. Galante e atencioso. Numa palavra, atraente. Atraente o suficiente para deixar qualquer rapariga com vontade de obter uma segunda impressão. E, nesse sentido, projectar uma primeira impressão contraditória a meu respeito ajuda muito. Porque, obviamente, isso atiça a curiosidade de uma mulher. Deixa-a com sede de saber qual dos meus lados é o predominante – se o mulherengo arrogante, se o gajo porreiro e atencioso. E é infinitamente mais saboroso provocar essa dúvida do que dar uma primeira impressão inequivocamente positiva (ou negativa). Porque a certeza não levanta questões. É assunto resolvido, pacífico. Sem sal. E, logo, não suscita interesse. Vai para a prateleira.

Posto isto, sim, sou um mulherengo arrogante e convencido. E, como tal, sim, uso a mesma cartilha de engate para toda e qualquer mulher. Com enorme sucesso, aliás. Afinal, não há mulher que não goste de ser seduzida por um homem garboso, inteligente, bem-humorado e atencioso e não há nada mais excitante – e gratificante – para ela do que encontrar esse Príncipe Encantado dentro da armadura do Cavaleiro Negro. É o que eu chamo de efeito “Belo Monstro.”